sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Barrigas que Abundam

Barrigas que Abundam

Há alguns dias venho me remoendo com uma conversa entre alguns amigos (?). Não foi bem uma conversa, era mais uma mesa redonda, e a berlinda era minha barriga, que segundo eles venho cevando com o propósito de me candidatar a rei momo do próximo carnaval, ou quiçá quebrar algum recorde, e olhe que a coitadinha ainda é só um filhotinho.

Barriga é sempre assunto polemico e interdisciplinar, até porque a conversa começou em literatura, passeou por direitos humanos, visitou a engenharia alimentar e a genética, exercitou a fisiocultura, discorreram sobre historia, heranças culturais e folclore. E terminou com Freud e Jung sentados comigo no divã, em uma espécie de terapia de grupo, que mais parecia um júri popular, onde acusavam a todos nós, em especial a minha barriga de cúmplices da preguiça, não o animal, mas aquela do pecado capital.

E como em toda discussão de berlinda, onde tantos são da promotoria e o acusado quase nunca acha advogado, a palavra “Capital”, aquela do pecado, trouxe o dinheiro para a roda, até porque não se pode falar em nenhum dos sete sem citar-lhes o chefe. O Dinheiro e seu grande parceiro, o tempo, a quem tomei por advogado, pois o tempo é esse sujeito ambíguo, que tanto acusa quanto defende.

Agarrei-me a esse argumento como chiclete em sola de sapato, daqueles derretido em asfalto quente, que por mais que se tente remover ele gruda, se esconde nas brechas e não quer sair nem por decreto. Como certo presidente.

Tudo isso se deu, por conta de uma rede que eu tinha comprado, e que os amigos (?), opinaram que foi capital mal empregado, que este capital render-me-ia mais dividendos se eu o houve-se aplicado em um tênis.

O tênis é o serial killer das barrigas, um verdadeiro psicopata, ele chega sempre macio, protetor, submisso, e leva as pobres barrigas para passear por calçadas desconhecidas, onde são cruelmente torturadas e convencidas a abandonar seus donos. Mas barriga é feito capim, se restar uma raizinha, na primeira chuva ela nasce de novo.

Sinto saudades do tempo que barriga era coisa de rico, de burguês mesmo, quem tinha barriga era um privilegiado, o sujeito era visto com um filhotinho de barriga, e os amigos gritavam logo

– Tá rico em!
Você respondia
– Que rico que nada!
Logo espocava o coro
– E essa barriga ai?

Hoje em dia é uma esculhambação só, todo mundo tem barriga, e a coitadinha virou inimigo público numero um, barrigas são sempre discriminadas, não importa a raça, idade, credo ou opção sexual, elas são sempre responsabilizadas por todas as desgraças da humanidade.

Governos do mundo inteiro decretaram guerra à pobre coitada. Já ouvi falar até que estão pensando em taxar a barriga, o sujeito vai pagar imposto sobre a barriga, e quanto maior for à pança, maior será o percentual cobrado do infeliz.

Alguns séculos atrás, barriga era charme, ninguém gostava de tabua de passar roupa, o charme era ser fofinha, fofuxo, cheinha, as barrigudinhas eram sinônimo de GOSTOSA, é só olhar as obras de arte daquele tempo, e digo mais, Deus, não curte magrelo, já prestou atenção nos anjos? São todos rechonchudinhos.

São os paradoxos da vida, quando o povo não tinha o que comer, o charme era ser barrigudinho, ai só quem podia ter barriga era rico. Quando se via um pobre barrigudo, logo lhe indicavam um remédio para verme. Agora que baixaram o preço do iogurte, tascaram hormônio nos frangos, bois, porcos, e se vacilar ate na mandioca tem hormônio, barriga é coisa de pobre. Rico vai para academia, SPA, clinica de estética, faz lipoaspiração, cirurgia plástica, os cambaus, tudo para perder a barriguinha e caber no novo perfil estético de beleza física. Deve ser por conta da ameaça do novo imposto, até porque rico nunca gostou de pagar imposto.

Eu quero ver é quando começarem a implicar com a bunda, é, quero só ver, quando começar a moda da bunda batida, bunda chulada, ai, que quero ver...


(AeSSECê)

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